segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Tonhão Extremo

Amigos, tudo bem? Desculpem a demora em dar uma satisfação sobre minha situação. As coisas estão acalmando. Então, segue um email enorme.

Bom, uma semana depois daquela grande notícia do fim do tumor no abdômen, as coisas complicaram. Nada que não esteja sendo tratado e não tenha grandes chances de cura. No dia 20/09 fui internado às pressas com dores de cabeça, vista duplicada e paralisia num dos cantos da boca. Diagnostico: células linfomáticas invadiram o sistema nervoso central, algo muito, muito raro de acontecer, principalmente na minha idade e no meu sub-tipo de linfoma.

A quimioterapia que eu estava fazendo (CHOP) não tem poder de penetrar no SNC, que eles chamam de santuário. Então, acrescentamos duas novas QTs ao esquema. Uma punção por agulha pra análise do liquor que corre na coluna e injeção de quimioterapia. A outra é o tenebroso metrotrexate (MTX). 24h na veia e efeitos colaterais destruidores. Mucosite na boca e no intestino. No intestino, a solução é aceitar a diarréia. Na boca, tentamos ao menos aliviar com um tratamento a laser. Seguindo ordens da minha médica, combinei com a dentista 10 sessões. Começamos exatamente no dia do tal MTX. Só que com 5 sessões a dentista achou que estava tudo bem e disse que não precisaria fazer 10. Fui pra casa dia 26. Passei bem segunda, terça, mas na quarta começou o inferno. Não conseguia falar, beber água, comer e ainda tinha a diarréia. Tive que comprar saliva artificial. Resultado: dia 03/10 cheguei apoiado no meu pai, sem força nenhuma pra ser novamente internado. Morfina pra poder comer, alimentação liquida e pastosa, atendimento, minha médica, a melhor coisa que fizemos.

No entando, o reloginho do ciclo quimioterápico estava rodando. Momento de baixar a imunidade. Caiu tanto, tanto, quase ao nível de um paciente transplantado. Situação delicada, por isso precisei de transfusão de sangue e plaqueta. E a doação da turma aí foi fundamental. Graças a Deus, correu tudo bem, células doentes do SNC caíram de 3.600 para 2 apenas e recebi alta no dia 10.

Porém, em casa, mais forte e me recuperando pro próximo ciclo que já seria na próxima terça, começo a ter suor noturno. Emergência de novo e a tomografia constou que doença no abdômen voltou. Pequena, bem no início, mas voltou. Ou seja, aquela primeira quimioterapia (CHOP) só estava mascarando a história. Parei de fazer por causa do SNC, voltou o problema. Ou seja, mudamos o protocolo e agora estou com uma nova quimioterapia (DHAP). Devem ser de 2 a 3 ciclos, atacando de uma vez só os dois problemas. Depois terei que fazer um transplante de medula autólogo, cujo doador sou eu mesmo. Dois meses depois complemento com radioterapia.

Amigos, perdão pela demora em dar uma satisfação e pelo email enorme. Gostaria de ter falado tudo isso ao vivo e a cores. Mas foi impossível. Andei meio deprimido com essa primeira reviravolta, confesso. Fiquei preocupado. Foi muito sofrida essa dor de cabeça, falta de visão, seguida da dor da mucosite grau máximo. Me internei na última sexta de novo pra começar a nova batalha. Acreditem: recuperei minha confiança, a certeza de que esse é o caminho. Vai ser sofrido, mas isso é passageiro. Desistir que é pra sempre. Tonhão Extremo.

Devo ter alta na quinta-feira. Voltar mesmo pro batente só depois do transplante. A ideia inicial é que no Reveillon eu já esteja bem, em casa. Independente de tudo, estou muito bem assessorado pela minha médica Cristiana Solza, alem do Dr. Wolmar Pulcheri (a cada 5 indicações, 4 citavam ele. Só não fiz o tratamento com ele porque na época ele estava na Europa e só voltaria em junho. Porém, Dr. Wolmar tem respaldado tudo que a Dra. Cristiana tem feito). A São Vicente é ótima clínica; minha família está me dando um apoio descomunal, se desdobrando. Minha mulher nem se fala; e tem vocês, meus amigos, cuja reza e força não tem tamanho.

Só pedi pra rapaziada não ficar ligando toda hora. Manda mensagem, Facebook, email que eu respondo quando der. Preciso descansar ela, a cabeça.

É isso.

Beijos e muita saúde a todos

quarta-feira, 20 de julho de 2011

liga da justiça, a legítima

- "Já tomou o Campari. Agora vai pras branquinhas."

Era um coroa barba branca, cara de pinguço, mas gente boa. Não sei o nome. Câncer no pulmão. Cigarro, lógico. Essa sala de quimioterapia, até agora, mó astral. Tô famoso lá como Tuninho Tremedeira. Eu mesmo me autodenominei por causa das reações ao falecido Mabtera.

Primeiro, remédio contra enjoo, depois 3 saquinhos. Um vermelho e 2 brancos, fechando com o soro. Não me pergunte o que é cada um. Pra mim, agora, é Campari e 2 branquinhas. Ah, o nome do tratamento é CHOP.

Aliás, vou chamar ali de Liga da Justiça. Tô descobrindo que meus heróis prediletos estão lá. Dona Vera, ela de novo, Verinha Maravilha! 3 anos nisso. Intestino, fígado e agora pulmão. Já operou duas vezes, vai pra terceira. Simpatia, alto astral e a confiança de que um dia vai rir disso tudo.

- "Adoro Saquarema."

Fiz duas horas de quimio hoje, dormi boa parte do tempo. Mas consegui coletar algumas informações de uma nova heroína. Estava dormindo também, encolhidinha, gorrinho, casaquinho, pequenina. Frágil? Só para os tolos. Seriam mais de seis horas no trampo. 86 anos. 2 de quimio. Ninja!

- "Deus foi muito bom comigo sempre. Criei meus filhos e só agora e que descobriram isso."

Sai fora, Superman! Não aguenta nem criptonita. Tô conhecendo os verdadeiros super heróis. Com esse sentimento, fui embora da sala de justiça. Verinha Maravilha já tinha saído e humilhado mais uma vez o inimigo. A Senhorinha Ninja continuaria lá. Cumprimento o enfermeiro Eduardo, dois beijinhos na enfermeira Fernanda e tchau.

- "Tchau, mas eu não quero beijinho não.", Capitão Barba Branca, ídolo, super herói.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

em busca do milésimo

É "Stereo Love" (Edward Maya & Vika Jigulina) que toca. Meu celular. 18h47.

- "Oi, Antonio. Olha, vi aqui o exame e você tá com cerca de 800 leucócitos."

E assim acabou o cochilo da 18h. Estou cada dia mais apaixonado pela Doutora. Na boa mesmo. Ela é direta assim, firme, sincera, sem enrolação. 

- "Mermão, eu tenho mais de 800 leucócitos, otário!", isso eu na rua.

Mas eu não pude ir pra rua. Alegria de ter voltado ao trabalho, 4 dias, deu. Imunidade baixou. Normal. Neutropenia é a palavra. Momento casinha. Comida crua, não. Multidão, não. Período curto, mas crítico. Chama-se "Nadir". Oito dias.  Se pintou febre, 37.8, hospital.

"O ser humano vive de objetivos. Eu vim para somar. Não para ser mais um." Reforço do Fluminense. Época de repórter. 13 anos atrás. Se entendi? Não. Mas me inspirei. No reforço? Não. No futebol. Vou em busca do milésimo.

Pela contagem do laboratório são 894 /ul leucócitos (não, eu não sei o que é /ul). 1.000 /ul leucócitos... significado "lhufas". Vale mesmo de 3.600 a 11.000 /ul. Mas, e daí? Pelé e Romário tiram onda com os milésimos. Gols em Copas, gols em casados x solteiros. Faltam 106 /ul para o milésimo.

- "Vamos proteger as criancinhas necessitadas... Pelo amor de Deus, o povo brasileiro não pode se esquecer das crianças.", Tonhão, 1.000 /ul leucócitos conquistados.
   

segunda-feira, 4 de julho de 2011

planeta extremo

Amigos,

devo confessar que vivo um momento em que chorar é muito fácil. Ter trabalhado hoje, mesmo que na rebarba, me emocionou. Na verdade, tenho sentido necessidade de chorar de vez em quando. 

Planeta Extremo me emocionou. Mas não foi só isso.

Planeta Extremo não foi só um trabalho brilhante de edição, reportagem, roteiro, imagens e tudo que envolve nossa profissão.

Planeta Extremo me deu mais forças na minha maratona particular.

Planeta Extremo orientou minhas ideias, disse o que eu estava precisando formular na minha cabeça: "O sofrimento é passageiro. Desistir é para sempre."

Eu não vou só parabenizar vocês não. Eu vou agradecer.

Obrigado de coração.

Beijos,

quarta-feira, 29 de junho de 2011

quero ser roger federer

Era Roger Federer, o maior de todos os tempos. Era Wimbledon, tradição, grama sagrada, quartas-de-final. Federer ganhou "só" 6 vezes ali. Era Jo-Tsonga, carreira correta e ponto.

- "Game Federer"

Na poltrona sagrada de Siqueira... Tonhão. Hoje sim! Aniquilou três de uma vez só. Inspiração Federer. Rápido, fácil, animador. Mas ainda tinha o jogão. Adversário: Mabtera. Engasgado.

Passadas lindas, paralelas, subida à rede...

- "Game Federer."

Suor, coração acelerando, toma Mabtera! Set Federer. Dois sets a zero pra ele. Tudo tranquilo, na mão, mais um setzinho para ganhar o jogo.

- "Game Tsonga."
- "Linda devolução do Jo-Tsonga."
- "Terceiro set e só dá Tsonga."

Olha o frio. Casaco. Cobertor. Cobertores. Queixo batendo.

- "Vira o jogo Jô-Tsonga."

Tremedeira de novo. Incontrolável.

- "Sensacional. Tsonga elimina Roger Federer."

Duraram mais de 3 horas, foram sofridos, tensos e surpreendentes. Tsonga venceu. Mabtera venceu. E daí? Com todo respeito, não quero ser Tsonga. Eu quero ser Roger Federer.

PS: Galera, tive reação ao Mabtera de novo. Ele é última tecnologia, anticorpo produzido em laboratório, 15% de plus pra cura. Até pouco tempo só era usado em idosos e nos hospitais públicos foi inserido só esse ano. Mesmo sem ele, pessoas ficam curadas do linfoma que eu tenho. Não conto mais com ele. Mas conto com minha saúde que é ótima, minha idade, além da força de vocês. Só de tomar o corticóide em casa já tive evolução boa. Agora com o primeiro ciclo, os outros 3 medicamentos, a tendência é só evoluir. Não tem o plus, mas tem muita coisa boa acontecendo. Em breve, estarei 100%.

O nome do tratamento é R-CHOP. Iniciais dos 5 medicamentos. O Mabtera é o R (rituxmabi). Ou seja, sobrou o CHOP... Preciso dizer mais nada.

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Tangerina, Dona Cleide?

- "Lu, tô passando aí na sua casa, ok?"
- "Sim, lógico, onde a senhora esta ago..."

Interfone toca. Dona Cleide, mãe da melhor amiga da Luciana. Elevador. Corredor. Porta. Isso tudo mais rápido do que o meu descarcar da tangerina.

- "Trouxe uma visita pra ficar aqui."

Tá, mas era só ela. Tinha uma sacola... grande. Gato? Cachorro? Papagaio? Miado não, nem latido, nem "dá o pé, lorô". Primeiro gomo de tangerina devidamente consumido.

Aqui tem aquele que liga, diz que em meia hora chega pra ir ao banheiro (número dois), dá descarga e vai embora. Ou aquela que liga na manhã do domingo, acorda a casa e diz que não pode falar agora.

Dona Cleide chegou, abriu a sacola. Gomo dois, estômago! Uma imagem de Nossa Senhora Auxiliadora. Uma visita da Santa à nossa casa pra trazer proteção ao efermo de plantão. Chegou hoje, vai embora amanhã. Veio de ônibus, de São Gonçalo, passando pelo Rocha, volta Niterói, engole almoço, Ponte, Botafogo.

- "Lanchinho, Dona Cleide?"

Oração a Ave Maria, um pedido. Gomo três, estômago urgente pra disfarçar o choro. Quantas vezes Dona Cleide me viu na vida? Duas - ontem e hoje talvez. Três no máximo, vai. Menos de quinze minutos de encontro. Não quis lanche. Cafezinho sim. Não quis carona. Não quis nem a tangerina e foi embora.

Lágrima um, chão.
Dois, chão, chão, chão...

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Mabthera e eu

De um lado do ringue, Tonhao, primeira luta. Do outro, Mabthera, o terrível.

No ringue ao lado, Dona Blanche, segunda luta. Caiu pra repescagem depois de perder para Nicotina Tyson. (Dona Blanche já tinha ouvido de um médico que iria ficar tetraplégica antes de descobrir que era um tumor).

Num terceiro ringue, Dona Vera, a Demolidora. Três anos de carreira. Sempre assim. Durante seis meses ela luta e nocauteia o inimigo da mesma forma que faz um crochezinho.

Três ringues, um ginásio, 10 metros quadrados, três lutas. Blanche, direita, esquerda. Vera, gancho, jab,

Tonhão, pimpão, otimista, suou, suou, suou. Vermelhidão. Nas cordas buscava uma correntinha de vento.

"Depois daqui vou a Saquarema", disse Dona Vera, a demolidora, enquanto aplicava outro jab.

Tonhao recuperava. Blanche nocauteava, se despedia, menos de duas horas.
Vera detonava. Já poderia estar em Saquarema, mas deve ser um prazer humilhar o adversário. Tonhão vai voltar. Golpe de Mabthera. E até então ele não tinha usado 10% da potência. Frio, muito frio. Tonhao se debatia como nunca na vida. Os médicos subiram no ringue. Cobertor, antialergico, dipirona. Não dava mais. Mabthera venceu.

E Tonhao ainda teria Ciclofosfamida, Vincristina e Doxorrubicina naquele dia. Ficou pra quarta-feira que vem. Tonhao contra todos eles... Inclusive Mabthera.

Ps: Amigos, tive uma reação alérgica ao Mabthera. Comum para marinheiros de primeira viagem. Pra semana esta sendo feita uma preparação especial. Vai dar certo. Fiquem tranquilos. Dona Vera e Dona Blanche são exemplos. Duas senhoras guerreiras. Fiquem em paz.